esta agora...
25.10.03
O futuro a eles pertence...
A notícia ontem divulgada, do saneamento 'para cima' de Mário Bettencourt Resendes no DN é mais um sinal (se tal fosse, nesta fase, ainda necessário) de que os anos vão passando - daqui a nada celebramos três décadas sob o fim do regime autoritário - mas o poder político continua a considerar vital o domínio de parte significativa dos orgãos de comunicação social. Há anos atrás faziam-se exclusivamente 'trocas' directas de 'cromos'; agora, em tempos de maior liberalização do sector (!), lá será preciso recorrer à força da golden share na PT.
Desta vez foi o Mário Resendes que foi substituído pelo assessor profissional e jornalista nos tempos livres, Fernando Lima. Num estilo de fazer inveja ao próprio Marques Mendes, a mudança foi clara, não tendo levantado qualquer problema (de consciência ou, por absurdo que possa parecer, até mesmo ético) a nenhum dos envolvidos. Lima junta-se, assim, a um já considerável grupo de leais seguidores que o actual executivo foi, paulatinamente, colocando em posições chave nos meios de comunicação social que, de uma forma ou outra, influencia (LUSA, RDP, RTP, DN, JN, TSF).
Embora, historicamente, o PSD sempre tenha sido o partido de poder que mais abertamente fez as coisas, o facto é que o PS também as fez. E será mesmo essa perenidade de procedimentos que torna toda esta situação tão perigosa para a democracia.
20.10.03
Dinastias
Peter Preston escreve hoje, no Guardian, sobre a sucessão dinástica. O mote é dado pela decisão de Rupert Murdoch de delegar poderes num dos seus dois filhos mais velhos, mas Preston aproveita para nos dizer que, nos negócios como na política, o sangue continua a ser mais forte. Diz Preston:
"Even America, however theoretically democratic and undeferential, is built on dynastic ambition, on Rockefellers and Kennedys and Bushes. Could Arnie have made it in California without Maria Shriver standing by her man? Of course not: her Kennedy connections were the steroids that pumped up his ambition in the first place. And you only have to go near a Republican convention to understand that there is nothing like a Bush".
Uma leitura atenta pede uma pergunta óbvia: então e nós, como vamos de dinastias?. Temos, de facto algumas nos negócios relevantes e temos, também, uma ou duas na política. Quando muito, as nossas tendem a não ser exclusivamente centradas na linearidade da transmissão sanguínea. Somos muito - também - de primos, sobrinhos e, até, conhecidos (mas de confiança!).
Depois da jornalisticamente duvidosa opção editorial da Time e depois do dossier no El Pais de ontem, apetece sentir reconforto na ideia de que, nisto, afinal somos quase tão iguais como os outros.
15.10.03
O mito 'expresso'
A notícia hoje publicada no Público sobre a jornalista do Expresso que comprou acções de uma empresa para ter o privilégio, negado a outros jornalistas, de assistir a uma assembleia geral levanta - creio eu - algumas sérias dúvidas do ponto de vista ético e deontológico mas, mais significativo (parece-me), representa a descida de mais um degrau no paulatino afundar daquele que é ainda percebido como um jornal de referência. Com toda a sinceridade - e admitindo aqui ser regular comprador da resma de papel mais popular dos fins-de-semana - creio que a publicação âncora do império balsemão há já mais de uma década que vem acumulando falhas graves, 'favores' claros, 'teasers' politicamente orientados e tentativas deliberadas de condicionamento da opinião pública (o caso mais gritante dos últimos tempos foi, por alturas da acesa discussão em torno do serviço público de televisão, a publicação de quatro textos de pendor editorial num mesmo número do jornal). A 'santíssima trindade' (composta, não nos esqueçamos, por, pelo menos, duas pessoas sem qualquer espírito jornalístico - no que de atento, irreverente e inquieto encerra o perfil) lá vai gerindo o que pode, com as poucas ferramentas intelectuais de que dispõe e com a soberba derivada dos números de vendas. É muito pouco para um jornal que já foi tão importante.
13.10.03
O aviso de martin bell
Um dos mais reputados jornalistas do planeta, o britânico martin bell - mundialmente conhecido pela sua cobertura, para a bbc, da guerra da jugoslávia - advertiu hoje uma plateia de editores para os perigos resultantes da crescente concorrência entre os meios de comunicação, sobretudo os que se dedicam ao 'fluxo contínuo'. Na sequência do suicídio do repórter da sky news, james furlong, bell disse que embora a credibilidade de uma estação deva continuar a ser o seu bem mais precioso, é importante que as empresas não se esqueçam de cuidar das mulheres e homens que lhe dedicam parte substancial das suas vidas.
A frase é de Martin Bell:
(a morte de james furlong) "says something about the duty of care that should be applied by editors" (...) "But it also says something about the strains of modern journalism, particularly in rolling news. Journalism is a competitive profession and under pressure I can see mistakes being made".
Embora não conheça, em portugal, algum caso semelhante - james furlong foi obrigado a demitir-se depois de se ter descoberto que uma peça sua, durante a guerra do iraque, teria sido encenada - são já preocupantes os casos de pessoas que, sem razão aparente, vão desaparecendo das redacções. A recessão e o 11 de setembro deram força a algumas acções de 'limpeza' muito pouco dignas no jornalismo português, reforçando ainda mais a tendência para um exercício da profissão sem memória. O dever de cuidado de que fala bell soa a lamechice aos ouvidos de alguns administradores, salvo quando é preciso ajudar um amigo pessoal, a sua esposa, o primo ou o gato.
O ensino superior
Depois do muito interessante debate sobre o ensino superior que nos proporcionou o carlos pinto coelho no seu novo programa na tsf ('directo ao assunto', domingos, 11h00), gostava de pensar que a rtp1 vai conseguir, esta noite, no seu 'prós e contras' (22h30), fazer mais do que mostrar-nos que existem, nesta como noutras questões, duas visões distintas. Pedro Lynce conseguiu - de uma forma absolutamente exemplar, do ponto de vista estratégico - dividir reitores e representantes dos estudantes a tal ponto que o crup é, por estes dias, pouco mais do que uma estrutura oca e as as greves estudantis parecem pouco mais do que actos simbólicos de uns resistentes. Nada será como dantes no ensino superior em portugal e importava que se percebesse a gravidade do momento presente.
De como não se consegue evitar o senhor eurodeputado
Sempre achei que o pacheco pereira era um dos mais independentes e nobres (no sentido mais escorreito da palavra) elementos do psd. Sempre me agradou a aparente facilidade com que se extravia do caminho ditado pela nomenclatura oficial da casa que abraçou em segundas núpcias. Há, porém, duas ou três coisitas que me incomodam na figura e das quais preciso de falar: 1 - discurso sobre os media em geral e sobre os jornalistas em particular; 2 - soberba intelectual; 3 - escusa em abrir o seu blogue a uma verdadeira comunicação com quem o lê.
Vamos então ao número um - partilho, em absoluto, o que sobre o assunto já escreveram dois observadores mais atentos e bem mais experientes do que eu: o Valdemar Cruz e o Manuel Pinto. No essencial, pacheco pereira - tão rigoroso noutras áreas - parece esquecer-se deliberadamente dos engulhos de qualquer generalização e, sobretudo, age como se o 'sistema' não seja, precisamente, o seu espaço vital, o seu lugar de maior conforto, o seu ambiente. Número dois: já me custou mais a aceitar a leitura que dele fazem outros observadores comportamentais sobre a firmeza com que acredita na estanquicidade de todos os seus argumentos, seja sobre o que for. Trata-se de uma postura muito pouco aceitável, tanto mais que o senhor em causa é versado na volatilidade de ideias e convicções. Número três: até pode parecer coisa de importância menor, neste enquadramento, mas não é. O abrupto não é um blogue. Não permite nem mais nem menos intermediação que uma normal página web. O senhor recebe e-mails (muitos, presumo) e apresenta-nos, de vez em quando, uma cuidadosa construção de simulacros de interactividade. Até nisso ele parece identificar-se tanto com a imagem demonisada do jornalismo dos interesses e das manipulações ao serviço de objectivos obscuros.
9.10.03
onde a tsf devia estar
Continuo a não conseguir resolver as dificuldades que, crescentemente, sinto quando ouço a rangelizada tsf. Já aqui falei da identidade sonora da estação. Sobre isso, penso que chega. Não vou, também, falar das 'aquisições' entre familiares e amigos do senhor (e o fragoso, bom moço coitado, mas entaladíssimo). Vou, antes, da minha modesta posição, apontar o que poderia ser o 'caminho das pedras'. A LBC (rádio que mistura dois estilos - newsradio e talkradio - e que emite para a área metropolitana de Londres) acaba de completar 30 anos de existência. Ao longo da sua vida, como escreve Brian Hayes, viveu períodos de turbulência teve também momentos em que mordeu os calcanhares da BBC. A LBC podia ser um modelo a seguir, se o senhor rangel tirasse dois segundos para - como reza uma das suas famosas boutades - 'ler duas coisas sobre o assunto'. Receio que a sua vida ocupada não lhe deixe muito tempo para a leitura. Receio que não tenha sequer percebido que a 'sopa de pedra' sem sabor definido que pretende criar na tsf tenha já tido reflexos claros na qualidade da informação - na última semana, antena um e rádio renascença (sobretudo esta última) 'ganharam' consistentemente todas as (saudáveis) disputas do 'quem chega primeiro'. Parece tão longe a poética (e muito radiofónica) referência do fernando alves à rádio que é, simultaneamente, da 'minha rua' e do 'meu mundo'.
7.10.03
Numa altura em que tanto se fala de défice de vergonha - o helicóptero, o ministro da palavra de honra no parlamento - creio ser importante falar no que ontem aconteceu na sic. No final do jornal da noite, o rodrigo teve por companhia o patrão, pinto balsemão, para falar de um novo projecto da estação - salvo erro, projecto esperança. A ideia, meritória aliás, é a de tornar mais humanizados espaços hospitalares e de proporcionar momentos de contacto com a renovação a pessoas que tudo perderam. A força do projecto está, parece-me, na intenção aparente de, nestes tempos difíceis, salientar o valor inalienável da dignidade humana. Pois muito bem. O que acontece então logo a seguir às despedidas do rodrigo? Entra em força o programa ídolos. O contraste não podia ser mais violento, até para quem já se espanta com pouco. Duas notas de grave preocupação: primeiro, parece-me preocupante a leveza com que se mistura tudo e a aparente falta de pudor de quem faz a mistura com um sorriso aberto no rosto; segundo, não podendo nós pedir a uma estação de televisão comercial que se entregue a tarefas com significado mais do que superficial, porque insistem os seus responsáveis neste aviltar da nossa inteligência e da sua própria credibilidade?. Afinal, 11 anos depois e encerrada a dolorosa separação, não estará a sic assim tão longe da estratégia do seu mentor - emídio rangel. Continuam a vir-me à lembrança aquelas sessões enérgicas de racionalidade merceeira, tão puras como assustadoras, que nos proporcionou o memorável documentário da mariana otero.
6.10.03
A nova imagem sonora da TSF representa a afirmação de força de emídio rangel mas representa, também, um retrocesso lamentável. Sem qualquer homogeneidade apela-se à fase pré-rodrigo leão e acrescentam-se sinais de orientalismo inspirado nos devaneios líricos dos anos 70. Muito fraco. Muito mau. A situação é grave por uma série de razões: primeira - surge pela mão de uma pessoa que devia já saber mais; segunda - anula um percurso verdadeiramente inovador na rádio portuguesa; terceira - desvaloriza por completo o papel da imagem sonora na construção da identidade de uma rádio de pendor informativo.